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Núcleo Avançado do Josias (NAJ), registrado em abril de 2024 (Foto: Reprodução/Diniz Fly)
A cerca de cinco quilômetros da sede de Zé Doca, uma construção imponente emerge silenciosa entre as árvores, como se estivesse congelada no tempo. O que um dia foi pensado para ser um polo de formação profissional hoje se tornou uma imagem de abandono: paredes marcadas pelo mofo, vegetação tomando corredores e o símbolo do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) quase apagado, prestes a desaparecer por completo.
Para os moradores do povoado Josias, a história por trás daquele prédio é conhecida. O espaço, projetado para atender estudantes de moda e famílias que viviam do comércio de roupas, bordados e artesanato, jamais cumpriu seu propósito.
Trata-se do Centro Vocacional Tecnológico do Josias (CVT), criado pela Resolução nº 006, de 29 de dezembro de 2009, assinada pelo então reitor José Ferreira Costa, o Zé Costa, natural do próprio povoado.
A estrutura do prédio — três salas de aula, dois laboratórios de Informática, biblioteca, cantina, almoxarifado, auditório, banheiros, salas pedagógicas e laboratórios de Química, Biologia, Física e Matemática — nunca recebeu um único estudante. Mesmo assim, foram investidos R$ 200.140,00 em materiais e equipamentos pedagógicos, que nunca chegaram a ser utilizados.
Apurações apontam que o custo total da obra ultrapassou R$ 1.012.740,00, financiados pela FINEP, ligada ao então Ministério da Ciência e Tecnologia. Um investimento expressivo, que mobilizou recursos e expectativas — mas não gerou nenhum resultado prático para a comunidade.
“Professores e até um diretor chegaram a ser contratados para assumir o prédio, porém ele nunca abriu as portas. Nunca houve um dia de aula”, relata uma fonte que preferiu não se identificar.
Além do prédio, também houve concurso público e treinamento de professores e técnicos que atuariam como instrutores de corte e costura, o que representou mais R$ 22.600,00 em despesas.
Com o tempo, as suspeitas se multiplicaram. Moradores acreditam que a obra teve “finalidade eleitoreira”, servindo como vitrine política para o IFMA e para gestores municipais de então. Há relatos de que o terreno teria sido doado por um morador local, o que acrescenta dúvidas e questionamentos sobre o processo.
O que diz o IFMA
Documentos do IFMA confirmam que o terreno onde o CVT foi construído está localizado na BR-316, entre áreas pertencentes a Miguel Galvão e Herbert Pavão, e foi formalmente doado pela Prefeitura de Zé Doca em 2009, durante a gestão do ex-prefeito Raimundo Nonato Sampaio.
O objetivo inicial era ambicioso: qualificar cerca de 2 mil mulheres da região, estimular a produção de artesanato e vestuário, fomentar a economia local e oferecer cursos de extensão, graduação e especialização por meio de ensino à distância.
Em nota, a Direção Geral do Campus Zé Doca informou:
“O CVT Josias encontra-se inoperante, tendo em vista que não há servidores lotados no Núcleo. Atualmente, o local conta apenas com vigilância armada diuturnamente, e limpeza quinzenal. Projetos de ensino estão em estudo para futura ocupação do espaço, assim como a solicitação de códigos de vagas para servidores, imprescindíveis ao funcionamento pleno do Núcleo.”
Reclamações continuam e se estendem ao Campus Zé Doca
O abandono do Josias não é um caso isolado. Moradores e estudantes afirmam que o problema reflete uma situação estrutural mais ampla, que atinge o próprio Campus Zé Doca do IFMA, inaugurado em fevereiro de 2010 com investimento de R$ 3,8 milhões.
Segundo relatos, o Campus estaria longe das condições de ensino ideais, acumulando problemas como:
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prédios inativos ou deteriorados, incluindo o Prédio Central;
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o maior auditório da região do Alto Turi, nunca inaugurado;
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laboratórios com equipamentos danificados;
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ausência dos serviços de assistência médica e odontológica prometidos pela CAE;
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a Fábrica de Inovação — que recebeu recursos — nunca inaugurada;
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interdição de espaços de aula, levando alunos a estudarem em áreas improvisadas;
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falta de merenda escolar;
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carência crônica de professores.
“O Josias é só a ponta do iceberg”, descreve um estudante. “O IFMA sabe do que acontece, mas não toma medidas efetivas. Há até relatos de tentativas de silenciar quem busca denunciar a situação.”
Um “elefante branco” que o povo não quer esquecer
Hoje, o antigo CVT do Josias é lembrado como uma obra cara, promissora e completamente desperdiçada. Uma oportunidade perdida que poderia ter transformado a vida de centenas de famílias, mas que acabou engolida pela burocracia, pela política e pela ausência de gestão.
Para a população de Zé Doca, o prédio abandonado não é apenas concreto deteriorado. É uma lembrança dolorosa do que poderia ter sido — e do que ainda pode ser, caso haja vontade política, ação institucional e compromisso com a educação profissional.
Fonte: O imparcial https://oimparcial.com.br/noticias/2025/12/obra-de-r-1-milhao-em-ze-doca-vira-ruina-e-simbolo-de-abandono/
